sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Hospício entre quatro paredes

Ao sair de casa me deparo diariamente com os dizeres: quer banana, vai plantar. Pregado na bananeira que se encontra dentro do terreno do Seu Antônio e lá estão as bananas apodrecendo no pé. Talvez ele seja um sujeito politicamente incorreto por essência. Sabe aqueles sujeitos que fazem piada de tudo: de paraplégico, de negro, de gay, de índio, de loira burra e tudo o mais que possa chocar uma pessoa que segue as regras do jogo social?

Aposto que ele faz isso porque tal atitude faz parte do seu quite de sobrevivência. Afinal, existem pessoas com as quais nos deparamos no dia-a-dia que desejam ser o centro das atenções. Para tanto, buscam se destacar sendo o avesso do que é o padrão. Seu Antônio, acredito eu, tem a certeza de que estamos em nossos lares indignados com sua postura e tal fato deve diverti-lo de forma ilimitada.

Contudo, esse meu vizinho de frente, não está entre os mais excêntricos. Não posso deixar de comentar sobre o Manoel e sua esposa que moram na casa da direita. A mulher gosta de fumar um baseado sempre antes de dormir. Creio que isso a deixe mais calma e faça com que seus nervos se descontraiam, o que contribui para que comece a sonhar mais cedo. Subentendo isso, porque quando não fuma “unzinho”, as luzes do quarto do casal ficam acesas até altas horas e em alguns momentos a ouço chorar. Nunca compreendi o porquê desse chororô, pois brigas jamais escutei daquela casa. Coisas da vida, essas que não conseguimos explicar. Talvez se eu fosse psicóloga dela, o mistério poderia ser desvendado.

Ainda não falei do marido. Aquele sujeito também tem problemas e já cheguei a um diagnóstico: é portador de transtorno obsessivo compulsivo, mais conhecido como TOC. Isso porque ele toda vez que estaciona o carro na garagem de sua casa, fecha e abre duas vezes todas as portas do automóvel para se certificar de que todas estão fechadas, para só então apertar o botãozinho que trava os ferrolhos do carro.

Sem falar no quanto o lixo do casal me dá nojo. Se pudéssemos medir o grau de civilidade dos seres humanos pela característica do lixo, tenho certeza que o deles é extremamente baixo. Eles entulham na rua, inúmeros saquinhos plásticos imundos, inclusive conseguimos ver o que tem em cada um. Outro dia, consegui distinguir entre os sacos um cheio de papéis higiênicos melados de fezes. Creio que eles acreditam ser o lixeiro um ser humano qualquer, não merecedor de um mínimo de cuidado. Pergunto-me: será que não têm condições de comprar aqueles sacos azuis grandes e enfiar aquela imundice dentro?

Dentre as histórias que acumulei em toda a minha caminhada pelos lugares onde já vivi a do vizinho dos fundos é a mais comum, infelizmente. O senhor que vive no terreno, toda vez que chega bêbado em casa, coloca um forró para tocar no mais alto volume e começa a espancar os filhos e a esposa. Hoje os meninos estão com quatro anos e não conseguem se comunicar sem gritar e com agressividade. Esse é o laboratório de como não se deve criar seres humanos.

Já a família que vive na casa à esquerda é a que considero com o menor grau de distúrbio. Mesmo assim, em alguns momentos, surpreendo-me com o nível do bairrismo que trazem. Logo que tais vizinhos se mudaram para o condomínio hastearam a bandeira do Rio Grande do Sul. Passado dois anos, essa bandeira foi substituída pela a do Internacional Futebol Clube. Todas as vezes em que há jogo do time do coração é um festival de gritos, fogos e choros. Fogos/gritos de ufanismo, quando há vitória e choros/gritos de insatisfação é o reflexo da derrota.

Lá estou eu no miolo desse zoológico humano. Não posso dizer que sou a sensata no meio do sanatório. Gosto de caminhar pela casa nua, molhar a grama e brigar com os cachorros usando palavrões carinhosos nos momentos em que os meus cães fazem com que eu trabalhe dobrado. Como nos dias em que estou limpando o quintal e eles entram provocativamente e defecam por toda a parte. Não há como não soltar: puta que pariu, seus escrotos, vocês acham que eu sou a escrava de vocês?! E, logo depois, vem o remorso e vou abraçando um por vez.

 Essas características já provocaram alguns falatórios nas famílias vizinhas e, como não poderia deixar de ser, fragmentos da fofoca alheia já alcançaram os meus ouvidos. Dizem: será que essa moça não entende que aqui nesse condomínio vivem pessoas de família? É isso aí, cada casa uma história, cada ser humano um arcabouço complexo de loucuras e quando observamos de longe a vida dos outros só conseguimos entender que o hospício mora ao lado, quando não em nós mesmos.

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