quinta-feira, 26 de abril de 2012

Paredes nascidas e despencadas

Estava presa em um lugar cheio de paredes. Elas cresciam conforme seus pensamentos transcorriam. Pareciam brotar feito planta. Uma sensação de tempo perdido.  E quanto mais pensava sobre as horas que se esvaiam e ela ali presa, mais as paredes se transformavam em labirinto. Foi se enraivecendo com vontade de parar de pensar. Todavia, os pensamentos a tomavam. Agora as paredes começaram a despencar golpeando o chão. Continuou a caminhada imersa na obsessão de deixar de pensar. Os pensamentos vinham em turbilhão. Amontoavam-se.  As paredes desenhavam percursos quadráticos no infinito. Quinas aos milhares. Ela deixou de dar passos por aqueles corredores inebriantes. Sentou no chão e principiou a cantarolar. Estratégia para não pensar. Em vão. Mesmo assim os pensamentos a consumiam. Desesperou-se. Levantou e começou a correr. Batia seu corpo contra as paredes, o que provocava nela uma dor aguda. Essa asfixia que a torturava na tentativa de deixar de pensar, não se equiparava à dor física. Intencionava esvaziar-se em pensamento, mas nada, não conseguia. Ouvia as paredes despencarem ensurdecedoramente. Desnorteou-se. Iniciou um soluçar sem fim. A tormenta foi transformada em calmaria pelo cansaço. Viu de forma clara, naquelas brechas de consciência que ocorrem em instantes raros: a prisão era a de dentro, não a de fora.

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