domingo, 13 de maio de 2012

Melhor que aspirina

Sós estivemos por muito tempo. Assim nos habituamos às paredes, à cadência da rotina, a fazer necessidades de portas abertas, a deixar fluir os gazes como uma sinfonia sem fim. A rirmos de bobeiras como essas que nos aproximam dos animais. A ficarmos transitando da forma como bem queríamos pela casa, sem ninguém pra reclamar. Afinal, só as muriçocas eram as testemunhas da intimidade arquitetada com toques de mestre no decorrer de anos.

Sem mais nem menos, engessávamos o tempo: hora de acordar; hora de escovar os dentes; hora de tomar café na padaria e ler o jornal; hora de ir pro trabalho; hora de voltar; ir caminhar; voltar; ver meia hora de televisão, ou mais, caso o telejornal estivesse interessante ou se tivesse um bom filme passando; hora de esquentar o leite, acrescentar toddy e comer pão com queijo e ovo. Hora de ler pra estimular o sono e, finalmente, sonhar, ou não, pois nem sempre nos lembramos das histórias do subconsciente. Cada dia que se passava, recrutávamos o tempo feito soldados em prontidão, para martelarem as horas do mesmo jeito.

Até que um dia desses, te vi caminhar pela rua no mesmo horário em que eu caminhava. Você deu um sorriso tão generoso, tão receptivo, que me destroçou e eu retribui. Voltei pra casa e comecei a mirabolar todas essas conjecturas. Presumi que você tem uma rotina toda sua, que engessou os segundos, mas que amanhã no mesmo horário de sempre, hora da caminhada, tudo se transformará.

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