domingo, 15 de julho de 2012

Meus caracóis

Ah, se não fossem os meus caracóis. Se os estirasse, certamente bocejaria à primeira olhada no espelho. Criaria uma personagem. Talvez a chamasse de Amanda. Outro ser, menos caricato, menos cara de desenho animado. Enquadrado em algum lugar, em algum retângulo mais apaziguado com os padrões.

Ah, se não fossem os meus caracóis. Eu me sentiria um ser liso, menos crespo. Mais introspectiva menos espalhafatosa. Mais risos sutis, menos gargalhadas escancaradas. Mais divisível, menos singular. Seria um espécime de dentro de um mundo em que as palavras se norteariam por direitos, menos por esquerdos.

Ah, se não fossem os meus caracóis. Saracotearia por aí de salto alto, terninho e me intitularia doutora. A tal da Amanda tomaria conta do pedaço. As pessoas do asfalto me tratariam com certa reverência. A verticalidade se circundaria sobre mim e a horizontalidade que os meus caracóis perseguem se desmancharia.

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