terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Ideias ao vento

imagem retirada do google



O que és?
Massa de modelar?
Papagaio de ti?
Fórmulas previsíveis, às vezes, invisíveis.

Onde tu estás?
Nos abismos dos ismos ou sem idealismos.
Anéis te dão e te arrancam.

Vontade de sair de ti.
De despachar-te para longe.
Livrar-te dos tiques
E diques de incompreensões.

Para onde caminhar?
Passos vãos, por que não?
Possibilidades atropeladas.

Nesses pensamentos de interior,
Esquisitices emergem.
As máscaras são observadas dentro daí de dentro.

Há como tu fugires de ti?
Correres das máscaras?
Há como não ser sendo?

Possibilidades bundalizadas.
Fechadas no miolo.
Hermético nos contornos que te formam.
Claustro sem grades.

Enfim, o fim.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Intolerável insensatez

imagem retirada do google

- Cadê o meu Gardenal ou o meu Prozac ou o meu Rivotril? Tiraram eles do lugar? Oh Dona Juvenilda, você tirou os meus medicamentos do lugar? Ah, não!? Então onde eles foram parar? Como vou fazer pra tolerar esse dia infernal (trânsito, trabalho, banco, poluição, levar criança pra escola, checar se foram feitas as compras de casa, etc, etc, etc). Ah, você achou? Onde estavam? No banheiro? E como eu não vi? Deixa pra lá! Me traz um copo d’água! Obrigada!
Crianças.
Carro.
Trânsito.
Escola.
Trânsito.
Trabalho.
               - Estou me sentindo lenta. Dona Joaquina, me traz guaraná em pó, um energético e um café!? Obrigada!
Computador.
Cliente.
Reunião.
Bate-boca com o chefe.
Acordo.
- Dona Joaquina, me traz um paracetamol! Ah, e um copo d’água bem gelada.
Carro.
Trânsito.
Escola.
Crianças.
Brigas no carro.
Reconciliação.
Casa.
               - Esqueci de comprar meu Lexotan...
Cama.

Rola pra lá.
Rola pra cá.
Faz a lista de tudo o que tem de fazer no dia seguinte.
Olha o relógio.
Três da manhã.
Olha novamente.
Cinco da manhã.
Pega um livro.
Lê, lê, lê...
Mais uma noite insone. 

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Pé no barro

foto retirada do google


Deram-me cartas,
Não joguei.
Deram-me metáforas,
Não interpretei.
Deram-me olhares,
Não encarei.
Deram-me caminhos longos,
Não percorri.

Preferi o pé no barro,
Sem cartas,
Sem metáforas,
Sem olhares rodeados de interrogações,
Sem caminhos demorados,
Por decidir trilhar um rumo sem floreios.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Um amanhã, por favor!

imagem retirada do google
Começamos a vida sempre com o calor da euforia. Tantos lugares a descobrir, tantas outras pessoas a desvendar, tantas metas a cumprir. O começo sempre é expansivo. Voltado pra fora. Autoconfiante, apesar da timidez. No início, somos capazes de dizer que somos vividos, por mais que só tenhamos conhecido algumas pessoas muito próximas à nossa realidade social. Sabemos de tudo. Não temos que dar satisfação a ninguém, porque já sabemos demais sobre as coisas do mundo.
À medida que a vida vai se sedimentando, as dúvidas começam a aparecer. As escolhas começam a fazer com que deixemos pela estrada tantas outras possibilidades. Acumulamos o ontem e deixamos escapar pessoas e situações provavelmente interessantes. Ao mesmo tempo em que alcançamos histórias que nos fizeram chegar até aqui, para caracterizar esse ser que se vê no reflexo do espelho.
No passado, projetávamos o futuro com olhos brilhantes.  Nos víamos ajudando pessoas na África, depois de enfrentar a faculdade de medicina e ingressar no Médicos Sem Fronteiras. Nos víamos desbravando o universo e vendo a Terra lá do espaço. Nos víamos grandes seres humanos. Quiçá, poderíamos nos tornar em: uma Clarice Lispector, um Einstein, um Freud, um Machado de Assis.
Porque quando éramos aquele ser seguro, tudo era possível. Não conhecíamos as fronteiras do que nos caracterizaria. Nem sabíamos que nunca chegaríamos a conhecer, ao certo, onde essa fronteira encontra o seu limite. Imaginávamos que a delimitação de toda a nossa maneira de ser estava presa aos nossos sonhos e que eles efetivamente se concretizariam.
Saber que nem tudo virá a ser o que imaginávamos e que esses sonhos podem vir a se tornar outros é o passo para o outro lado da vida. A mística da juventude, diluímos na realidade. E passamos a compreender nos nossos sonhos parcela do que somos, porque a imaginação também nos caracteriza. Os lugares que desejávamos conhecer serão selecionados pelo quanto nossa carteira possa despender para chegar até eles.
As pessoas que vem e vão comporão esse emaranhado do que vamos nos tornando. Isso incrementado com uma pitada de felicidade e de dor, para cada qual que se aproxima e se afasta.
Há vezes em que os passos rumo à virada da juventude para maturidade é interrompido de forma abrupta e com dor vemos a impossibilidade de nos depararmos com as incertezas, os tropeços, as alegrias que só a caminhada pela vida proporciona. O desastre ocorrido em Santa Maria, Rio Grande do Sul, expõe com lente de aumento a inviabilidade de se dar passos rumo a um futuro, que por mais que incerto, era futuro.
Como o ontem não volta, precisamos urgentemente do hoje, para corrigirmos falhas, a fim de que um amanhã não seja interrompido em chamas.

(texto publicado pela Revista MeiaUm, n. 21, fevereiro de 2013)