sexta-feira, 19 de abril de 2013

Desalinho autêntico


Ela era assim: desalinhada. Não entendia de moda, nem sentia falta disso. Sempre percebeu os olhares dos outros direcionados para ela. Não somente por causa da gordura excessiva, que torneava o seu corpo, mas também pelas combinações de roupa esdrúxulas que fazia. Não queria chamar atenção de ninguém, mas sua maneira de ser tornava a invisibilidade impossível. Foi se adaptando ao seu jeito pop às avessas de se encontrar no mundo.
As loiras oxigenadas da bunda dura, que trabalhavam no mesmo setor da gorda, não compreendiam como uma obesa e mal vestida podia atrair tantos sujeitos interessantes para si. As oxigenadas passavam tanto tempo na academia enrijecendo os glúteos, deixando a barriga enxuta e fazendo drenagem linfática que começaram a achar que a gorda era feiticeira, porque não podia ser verdade uma mulher tão desengonçada ter tamanho sucesso. Iniciaram um processo de indagações sobre a maneira de ser da gorda, para tentarem desvendar o mistério.
Um dia, em um debate acalorado, decidiram questionar a gorda sobre o que ela fazia para atrair tantos olhares de sujeitos bacanas. A gorda disse: Ah, minha filha, é uma questão apenas de ser menos bundística. Pediram mais explicações, mas a gorda se recusou a dar, pois afinal a coca-cola possui seu segredo de sucesso guardado e não dá a ninguém. Não seria ela a dar de graça o seu.
As meninas correram para o dicionário tentando compreender a expressão e nada encontraram. Questionaram-se sobre a palavra: bun-dís-ti-ca. Será que tem  a ver com Buda? Até hoje, elas se encontram semanalmente, para juntar as peças do quebra-cabeças. Mesmo assim, continuam horas e mais horas nas aulas de glúteos e incluíram, na agenda, umas aulas de yoga. Um dia elas chegam lá.

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