domingo, 24 de maio de 2015

Desembrulhando a vida




Se um dia fosse possível a todos desfazer parte do que construiu, transformar isso em alguns tostões e caminhar pelas estradas de diferentes lugares, todos seríamos quiçá menos ensimesmados, menos mecanizados, menos produtores de lixo, mais consumidores de experiências, sensações e descobertas.

Se a todos fosse dada a chance de sair do seu universo interior e vasculhar outras formas de vida, de palavras; talvez fossemos menos carentes de presença em redes desconexas, desarranjadas, sem afetuosidade.

Quem sabe poderíamos desfazer o miolo de respostas prontas, socialmente engessadas. Não teríamos medo de sermos volúveis, desconexos e desestruturados. Afinal, de que serve a vida coerentemente traçada em passos cartesianos e metodicamente alinhavados.

Ah, se a cada sintoma de disfuncionalidade dos sinais vitais, todos chutássemos o balde e nos entregássemos às estradas geográficas que circundam o mundo com suas diferentes paisagens e pessoas, toda a sociedade ganharia em amabilidade.

Por que ainda damos demasiada importância a uma vida com raízes, vigas e estruturas? Indo em busca disso, dia e noite, noite e dia, dignificando esse status. Qualificamo-nos, denominamo-nos. Assim, diante dos diferentes adjetivos que as instituições e pessoas nos dão, muitas vezes, não nos reconhecemos.

Perdemo-nos em questionamentos que exigem respostas plausíveis e racionais. Mas, as tais respostas inevitavelmente são inacabadas, truncadas e, muitas delas, inexistentes.

Nesse sentido, sair do lugar comum, do lugar de origem, viajar possibilita uma imersão nessa sinuosidade que é viver. Percebemos a condição de sermos humanos.

Seria demasiado utópico incluir na cesta básica dos direitos fundamentais de cada cidadão a possibilidade de viajar, nem que fosse pelas palavras?

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