sexta-feira, 12 de junho de 2015

Encontros



Se a todos fosse dada a oportunidade de se desfazer em mil, de se arriscar na tarefa, nada fácil, de se jogar na incerteza de um relacionamento, seria o sinal de que estaríamos permitindo sermos volúveis, sentimentais, piegas; numa sociedade em que, a cada dia, preza-se pela certeza, segurança e racionalidade.

Todos seríamos heróis do não saber o que está por vir, seríamos descontrolados, porque a paixão prega peças e são elas que nos trazem o estado mais instável do ser. O choro, o riso, a harmonia, a cumplicidade. Descargas de adrenalina por minutos vividos. E bem vividos!

 Ah, aquela singeleza de encontrar o olhar de interesse no olhar cruzado, que permanece por um breve instante, e se permite entrar, e se permite vasculhar, e se permite conhecer, e se permite destrinchar, até o mais profundo que possa alcançar.

Mas há aqueles que por temerem o rateio diário de compartilhamentos de histórias, vivenciam suas individualidades tortas e se distraem não mirando os que os circundam, possíveis parceiros.

Esses tipos temem a possibilidade de permitir deixar entrar o outro ser que poderia vasculhar zonas demasiado escondidas. E, nesse espaço nunca visitado, onde se pesa e se foge de si, esvai-se tempo, torcem-se as memórias que poderiam ser construídas na companhia daquele que aniquilaria a racionalidade, o controle de dias tique-taques.


Aqui está uma ode à vulnerabilidade deliciosa dos que estão apaixonados, seja por um minuto, seja por um dia, seja por anos a fio. Aqui está um grito de clamor por uma sociedade mais amorosa, mais intensa, mais enamorada, em que compartilhamos tempo, em que o tempo, por vezes, inexiste. Momento em que a paixão não quer ser fugaz, quer ser raiz fincada no solo, no terraço, em todas as marcas do corpo, em todas as esferas do ser. 

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