domingo, 31 de janeiro de 2016

Catando silêncio no mato

No meio da floresta, tentava aquietar-me e sem sucesso o barulho aqui de dentro se confundia com os chiados da natureza. Pelejava para diminuir a voltagem e nada.

Via que mesmo no meio do mundaréu de árvores, raízes, folhas, bichos seguia vindo um turbilhão de histórias. Só me dava conta de que estava recortando personagens quando percebia que queria silenciar os pensamentos.

No fundo do mato sereno. No medo dos bichos do mato. No barulho ensurdecedor do pensamento. No nada de ter tudo e não ter nada. Na riqueza de uma vida simples.

Em um momento qualquer, senti que me serenei. Catei o silêncio por tempo indeterminado quando olhava o rio, riscado pelo navegar do barco.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Acumuladores de tantos e tão poucos

Seja bem-vindo. É só entrar. Não precisa fechar a porta. Deixe-a aberta. Vai ficando, sinta-se à vontade. E se partir deixe um bilhete desses que me façam revisitá-lo. Nele não fale até logo, não diga adeus de jeito algum. Mas se decidir partir e não deixar nenhuma matéria. Tudo bem. Não há problema. Aqui onde moro, em cada fresta, há entulhos de coisas que acumulo e em alguma fresta lá você estará. Não se estranhe. Sou dessas doidas que não deixa ir, nem se quisesse, conseguiria. Estará guardado nem que seja no pedacinho de um papel, numa imagem captada em uma tarde qualquer. Ou mesmo nessa velha caixola que não se esquece. Sou guardadora. Sou empilhadora. Não tem jeito. Faz parte de mim. Revisitar, eis minha marca. Seja num canto ou noutro. Seja daqui a um segundo, seja no final de tarde de um domingo perdido, onde bate aquela aguda lembrança das frestas que são colocadas em slides. Alguma fagulha pode reacender e um traço de você surgirá. Se decidir permanecer, talvez encontre onde habito um pouco de bolor, fungos, mas nada muito tóxico. Os acumuladores são assim. Não conseguem se desfazer da poeira, da fauna de suas vidas e deixam-se estar.