Deixa estar. Dizia ela ao pé do ouvido, sem grandes
pretensões de continuar caminhando junto dele. Assim, conforme andavam a passos
curtos e lesados aqueles encontros sem comprometimentos permaneciam, sem impulso por fixar
território, lastrear em documentos a vida a dois. Quedavam ali, naquela vida
mansa, sem muito a buscar.
Quando queriam companhia, um
poderia estar disposto ao encontro, o outro não, e vice-versa. Quando queriam,
encontravam-se. Era assim, cotidianamente pactuavam o não enredamento.
Ligavam-se por fio tênue. Era o vício de liberdade. De privacidade.
Assim, dois anos e pouco se passaram, até que ela
experimentou em outro canto sensação nova. Cobrança por presença, por laço, por
afeto continuado. Aquela fala cheia de calor acolhedor ao pé do ouvido: Fica mais, fica
um dia, fica uma semana, mês, fica pela manhã, fica pela tarde, não se vá a
noite.
Não teve jeito, deixou-se cativar. Fincar morada, assim se deixou amar, se deixou querer. Descobriu liberdade dentro da fronteira
do querer estar ao lado dele e assim se fez mais livre do que antes, dali se fez
vida, se fez riso, se fez tristeza, se fez história.
E até hoje lá estão se querendo.
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