domingo, 10 de julho de 2016

Cambaleando



Deixa estar. Dizia ela ao pé do ouvido, sem grandes pretensões de continuar caminhando junto dele. Assim, conforme andavam a passos curtos e lesados aqueles encontros sem comprometimentos permaneciam, sem impulso por fixar território, lastrear em documentos a vida a dois. Quedavam ali, naquela vida mansa, sem muito a buscar.

Quando queriam companhia, um poderia estar disposto ao encontro, o outro não, e vice-versa. Quando queriam, encontravam-se. Era assim, cotidianamente pactuavam o não enredamento. Ligavam-se por fio tênue. Era o vício de liberdade. De privacidade.

Assim, dois anos e pouco se passaram, até que ela experimentou em outro canto sensação nova. Cobrança por presença, por laço, por afeto continuado. Aquela fala cheia de calor acolhedor ao pé do ouvido: Fica mais, fica um dia, fica uma semana, mês, fica pela manhã, fica pela tarde, não se vá a noite.

Não teve jeito, deixou-se cativar. Fincar morada, assim se deixou amar, se deixou querer. Descobriu liberdade dentro da fronteira do querer estar ao lado dele e assim se fez mais livre do que antes, dali se fez vida, se fez riso, se fez tristeza, se fez história.


E até hoje lá estão se querendo.

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