segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Nada a fazer

imagem retirada do google

Ócio, caminha até mim.
Você me permitia desbravar palavra,
Descascar histórias,
Comer cotidiano de personagem,
Retalhar vidas,
Destrinchar córregos,
Desatar nós...

Ócio, vem aqui!
Me faz renascer,
Voltar àquela que trafegava verbos.

Desconecta-me da rotina,
Massacrante,
Robotizante,
Que enferruja as juntas da imaginação.

Corre até bem perto de mim, ócio!
E me faz dia,
E me faz noite,
E me faz adormecer e amanhecer em ti.,
Sem tédio,
Sem miséria,
Sem nada.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Quando!

imagem retirada do google

Quando a saudade bate e a solidão abre a porta.
Quando o adeus se aproxima e algo se esvazia.
Quando se perde o rumo e se embrulha a vida pra viagem.
Quando as mudanças põem a mesa da ausência no dia seguinte.
É assim:
De muitos quandos, os recomeços sobrevivem.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Desalinho autêntico


Ela era assim: desalinhada. Não entendia de moda, nem sentia falta disso. Sempre percebeu os olhares dos outros direcionados para ela. Não somente por causa da gordura excessiva, que torneava o seu corpo, mas também pelas combinações de roupa esdrúxulas que fazia. Não queria chamar atenção de ninguém, mas sua maneira de ser tornava a invisibilidade impossível. Foi se adaptando ao seu jeito pop às avessas de se encontrar no mundo.
As loiras oxigenadas da bunda dura, que trabalhavam no mesmo setor da gorda, não compreendiam como uma obesa e mal vestida podia atrair tantos sujeitos interessantes para si. As oxigenadas passavam tanto tempo na academia enrijecendo os glúteos, deixando a barriga enxuta e fazendo drenagem linfática que começaram a achar que a gorda era feiticeira, porque não podia ser verdade uma mulher tão desengonçada ter tamanho sucesso. Iniciaram um processo de indagações sobre a maneira de ser da gorda, para tentarem desvendar o mistério.
Um dia, em um debate acalorado, decidiram questionar a gorda sobre o que ela fazia para atrair tantos olhares de sujeitos bacanas. A gorda disse: Ah, minha filha, é uma questão apenas de ser menos bundística. Pediram mais explicações, mas a gorda se recusou a dar, pois afinal a coca-cola possui seu segredo de sucesso guardado e não dá a ninguém. Não seria ela a dar de graça o seu.
As meninas correram para o dicionário tentando compreender a expressão e nada encontraram. Questionaram-se sobre a palavra: bun-dís-ti-ca. Será que tem  a ver com Buda? Até hoje, elas se encontram semanalmente, para juntar as peças do quebra-cabeças. Mesmo assim, continuam horas e mais horas nas aulas de glúteos e incluíram, na agenda, umas aulas de yoga. Um dia elas chegam lá.

terça-feira, 26 de março de 2013

Finalidades sem fim

pintura retirada do google
Despelei palavras
Para ser
Sucinta.

Olhei de relance 
Para disfarçar
Amor.

Traduzi caminhos
Para não parecer
Estrangeira.

Furei os olhos
Para sentir
Cegueira.

Apertei as pernas
Para caber no
Jeans.

Observei os pássaros
Para ver o dia
Sorrindo.

Porém,
Para nem tudo há
Finalidade.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Reticências

imagem retirada do google
É uma arte, a busca por manter a linha. Manter a classe. O tal equilíbrio que está na boca de todos. Esse caminhar na corda bamba. Não deixar transparecer todas as suas intenções, tudo aquilo guardado, que você realmente pensa, para não contestar aquele que pensa de forma tão diferente da sua. A preguiça monumental de saber quais tipos de conclusões sobre aquele assunto cada um possui. Esse é o contorcionismo das palavras. Dizer não dizendo.
Parece pedante falar sobre a preguiça do debate, mas não, não é. Há alguns momentos em que os pressupostos defendidos por alguém têm base em algo oposto ao que você acredita aí o monólogo vai se apresentando.
Para evitar a discussão desgastante, você permanece ali, observando o interlocutor e apenas sonhando com o momento oportuno para sair daquele lugar em que se meteu. São tantas futilidades, baboseiras e demais reticências que não fazem sentido. Mas o seu interlocutor as entende plenamente. E você está ali diante dele, um alienígena. Você permanece hermético, silencioso, confortavelmente sentado, com um sutil sorriso no rosto.
Fazer questionamentos que poderão levar a um debate, não, você não os faz. Já sabe que os pontos de vista se distanciam tanto, que qualquer coisa dita, levará a lugar nenhum. Você transforma-se em estátua que solta alguns zunidos: humrum, hanram, é..., talvez..., isso nunca me aconteceu..., não acredito muito nisso...
E o seu interlocutor, ainda assim, não percebe que está falando com as paredes. Continua a despejar suas convicções. Só depois de algumas dezenas de minutos você consegue sair dali, com a desculpa do “preciso ir ao banheiro”. E escapa, como se tivesse percorrido uma maratona inteira, sem chegar à linha de chegada, mesmo assim não se frustra. Você só queria evitar a fadiga!

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Ideias ao vento

imagem retirada do google



O que és?
Massa de modelar?
Papagaio de ti?
Fórmulas previsíveis, às vezes, invisíveis.

Onde tu estás?
Nos abismos dos ismos ou sem idealismos.
Anéis te dão e te arrancam.

Vontade de sair de ti.
De despachar-te para longe.
Livrar-te dos tiques
E diques de incompreensões.

Para onde caminhar?
Passos vãos, por que não?
Possibilidades atropeladas.

Nesses pensamentos de interior,
Esquisitices emergem.
As máscaras são observadas dentro daí de dentro.

Há como tu fugires de ti?
Correres das máscaras?
Há como não ser sendo?

Possibilidades bundalizadas.
Fechadas no miolo.
Hermético nos contornos que te formam.
Claustro sem grades.

Enfim, o fim.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Intolerável insensatez

imagem retirada do google

- Cadê o meu Gardenal ou o meu Prozac ou o meu Rivotril? Tiraram eles do lugar? Oh Dona Juvenilda, você tirou os meus medicamentos do lugar? Ah, não!? Então onde eles foram parar? Como vou fazer pra tolerar esse dia infernal (trânsito, trabalho, banco, poluição, levar criança pra escola, checar se foram feitas as compras de casa, etc, etc, etc). Ah, você achou? Onde estavam? No banheiro? E como eu não vi? Deixa pra lá! Me traz um copo d’água! Obrigada!
Crianças.
Carro.
Trânsito.
Escola.
Trânsito.
Trabalho.
               - Estou me sentindo lenta. Dona Joaquina, me traz guaraná em pó, um energético e um café!? Obrigada!
Computador.
Cliente.
Reunião.
Bate-boca com o chefe.
Acordo.
- Dona Joaquina, me traz um paracetamol! Ah, e um copo d’água bem gelada.
Carro.
Trânsito.
Escola.
Crianças.
Brigas no carro.
Reconciliação.
Casa.
               - Esqueci de comprar meu Lexotan...
Cama.

Rola pra lá.
Rola pra cá.
Faz a lista de tudo o que tem de fazer no dia seguinte.
Olha o relógio.
Três da manhã.
Olha novamente.
Cinco da manhã.
Pega um livro.
Lê, lê, lê...
Mais uma noite insone. 

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Pé no barro

foto retirada do google


Deram-me cartas,
Não joguei.
Deram-me metáforas,
Não interpretei.
Deram-me olhares,
Não encarei.
Deram-me caminhos longos,
Não percorri.

Preferi o pé no barro,
Sem cartas,
Sem metáforas,
Sem olhares rodeados de interrogações,
Sem caminhos demorados,
Por decidir trilhar um rumo sem floreios.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Um amanhã, por favor!

imagem retirada do google
Começamos a vida sempre com o calor da euforia. Tantos lugares a descobrir, tantas outras pessoas a desvendar, tantas metas a cumprir. O começo sempre é expansivo. Voltado pra fora. Autoconfiante, apesar da timidez. No início, somos capazes de dizer que somos vividos, por mais que só tenhamos conhecido algumas pessoas muito próximas à nossa realidade social. Sabemos de tudo. Não temos que dar satisfação a ninguém, porque já sabemos demais sobre as coisas do mundo.
À medida que a vida vai se sedimentando, as dúvidas começam a aparecer. As escolhas começam a fazer com que deixemos pela estrada tantas outras possibilidades. Acumulamos o ontem e deixamos escapar pessoas e situações provavelmente interessantes. Ao mesmo tempo em que alcançamos histórias que nos fizeram chegar até aqui, para caracterizar esse ser que se vê no reflexo do espelho.
No passado, projetávamos o futuro com olhos brilhantes.  Nos víamos ajudando pessoas na África, depois de enfrentar a faculdade de medicina e ingressar no Médicos Sem Fronteiras. Nos víamos desbravando o universo e vendo a Terra lá do espaço. Nos víamos grandes seres humanos. Quiçá, poderíamos nos tornar em: uma Clarice Lispector, um Einstein, um Freud, um Machado de Assis.
Porque quando éramos aquele ser seguro, tudo era possível. Não conhecíamos as fronteiras do que nos caracterizaria. Nem sabíamos que nunca chegaríamos a conhecer, ao certo, onde essa fronteira encontra o seu limite. Imaginávamos que a delimitação de toda a nossa maneira de ser estava presa aos nossos sonhos e que eles efetivamente se concretizariam.
Saber que nem tudo virá a ser o que imaginávamos e que esses sonhos podem vir a se tornar outros é o passo para o outro lado da vida. A mística da juventude, diluímos na realidade. E passamos a compreender nos nossos sonhos parcela do que somos, porque a imaginação também nos caracteriza. Os lugares que desejávamos conhecer serão selecionados pelo quanto nossa carteira possa despender para chegar até eles.
As pessoas que vem e vão comporão esse emaranhado do que vamos nos tornando. Isso incrementado com uma pitada de felicidade e de dor, para cada qual que se aproxima e se afasta.
Há vezes em que os passos rumo à virada da juventude para maturidade é interrompido de forma abrupta e com dor vemos a impossibilidade de nos depararmos com as incertezas, os tropeços, as alegrias que só a caminhada pela vida proporciona. O desastre ocorrido em Santa Maria, Rio Grande do Sul, expõe com lente de aumento a inviabilidade de se dar passos rumo a um futuro, que por mais que incerto, era futuro.
Como o ontem não volta, precisamos urgentemente do hoje, para corrigirmos falhas, a fim de que um amanhã não seja interrompido em chamas.

(texto publicado pela Revista MeiaUm, n. 21, fevereiro de 2013)

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Forjar-se


artista Cherie Strong

De tão pouco que se conhecia, forjava a própria aparência. Todas as manhãs, escolhia uma maneira nova de se mostrar. De um dia para outro, sabia que poderia atrair novos olhares a depender da roupa, da postura, das pausas na fala. Era uma lagarta assim que despertava, e conforme ia caminhando até o banheiro sua alma se borboleteava.

Até que um dia se olhou no espelho e vasculhou os traços que davam expressão ao seu rosto. Atentou para as linhas que delineavam o seu corpo. Voltou-se para o guarda-roupa e não quis nenhuma vestimenta. Saiu nua. Na rua, ninguém a observava. Era transparente aos olhares dos transeuntes. Por que não se envergonhava diante daquela inusitada experiência? Somente seguia colocando um passo diante do outro. Seu corpo, por inteiro, sentia a brisa e o calor do sol. Toda sua pele respirava.

Caminhou, em silêncio, até o parque inundado de pessoas, porque era feriado. As crianças corriam, gritavam brincando de pic-pega. Voltou ao seu apartamento. Alcançou o quarto e lá se viu. Seu corpo continuava ali, em frente ao guarda-roupa, sem saber quem queria aparentar ser naquele dia. Seu pensamento tinha caminhado livre. Mas já tinha voltado a si.

Foi até a janela, abriu as cortinas e deixou o sol entrar. Vestiu uma saia longa azul qualquer. Queria deixar o tecido pousar em sua pele e deixar o tronco nu, para sentir o sol de duas formas, sobre o tecido e diretamente sobre sua pele. Permaneceu ali, na cama, seminua, sem querer forjar-se aquele dia.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Impropriedades do amor

ilustração retirada do google

Caída olhava sem ver.
Seca, dura, gelada.
Os sentidos não tinham comando.
A andada irregular.

As horas não pingavam areia.
Saí de mim.
Agora, não importa saber.
Ar, tempo, sentidos: tudo desnecessário.
O fim esgotou o começo.

O início foi retomado no sim.
No sim,
Que te dei
Que te dou e darei
Sempre que quiseres o recomeço.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Alguns passos para conquistar uma mulher

imagem retirada do google
Não sei por que, mas com esse título, tenho pra mim, que esse será o texto mais visitado desse espaço de prosa e verso. Parece que o ser humano é, mais ou menos, como ratinho de laboratório, fica tacando o dedo onde acha que vai encontrar a felicidade instantânea. Mesmo não a alcançando, continua a levar choque triscando no mesmo botãozinho. Não é à toa que os livros de autoajuda vendem feito água.
Falou em emagrecer rápido, falou em caminho para a conquista do sucesso antes dos 30, falou em seduzir a mulher ou o homem dos seus sonhos... Pronto! Lá estão os ratinhos a abrir a carteira e fazer com que a economia do país aqueça. Principalmente, quando os títulos trouxerem uma pieguice embutida.
Depois dessa baboseira crítica, vamos ao que interessa: conquistar uma mulher. Para tanto, é preciso saber que não há apenas um tipo de mulher. Então a arte da conquista é o samba do crioulo doido.
Não faz sentido uma trajetória guiada por passos cartesianos para atingir tal finalidade. Só se sabe que falar um bom português é necessário. Ser bem sucedido nem é lá grandes coisas para algumas dessas mulheres, já para outras isso é fundamental.
Ser carinhoso demais pode ser interpretado, por algumas, como sinal de grude e isso causa asco. Já para outras, é fantástico. Só se sabe, com certeza, que uma medida de carinho é importante, porque nem bicho gosta de ser tratado com brutalidade. Portanto, adicione na proporção certa esse sentimento, interpretando a mulher que lhe agrade.
Porte físico, beleza e outras características físicas para a maioria das mulheres não é tão relevante, então não se preocupem. Elas gostam de qualquer jeito, pelo menos, creio eu.
Como já puderam perceber. Não há um passo definido a ser seguido, para se alcançar aquela pessoa por quem você se sente atraído. Ou melhor, a conquista pode ser resumida assim: pelo cheiro (feromônio) e gentileza (ser carinhoso, engraçado, inteligente, simples). Voilà, a receita está pronta, ou não...

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Sono

imagem retirada do google
Dentro em breve:
Não erguerei muralhas para a interação
A distração não acarretará danos sérios à falta de comunicação
A Terra será mais um astro dentre milhares de outros.
As figuras abstratas podem ganhar outra compreensão.

Serei atomizada diante da imensidão,
O maior dos barulhos pode me retirar desse momento sublime,
Em que não me apercebo,
Não conecto palavras.
Removo a poeira do amontoado de informação.

Tudo isso porque:
As pálpebras estão fechando,
Os pensamentos minguando,
A confusão trazida pela sonolência aguardando,
O estágio mais esperado do dia, em que tudo é imaginação
Colhida da realidade e recortada pelas sinapses
Onde o cotidiano ganha em ressignificação.